"A sensação que eu tenho é que mal tirei os enfeites da sala e já estou remontando o presépio. Esse ano passou tão rápido, tão ligeiro. Ainda não cumpri metade das minhas promessas de ano novo e já me vejo reescrevendo uma lista de novos desejos.
Confesso que estou requentando sonhos, eliminando anseios, marcando de verde o que consegui fazer, apagando da memória as frustrações do que podia, mas não deu certo. Talvez tenha me faltado garra, força de vontade, ou sei lá, talvez algumas coisas não devessem mesmo acontecer. Tem sonho que é mais gostoso quando é só sonhado.
Nem parece, né? Mas lá já quase se vão mais 365 oportunidades desperdiçadas de sermos felizes. São aproximadamente 8.760 horas que gastamos, em parte pensando em quem não devíamos, estando com quem não queríamos ou até onde não desejávamos estar, nos iludindo. Mas, quem sabe, são só 525.600 minutos que tentamos desesperadamente fazer as nossas vidas darem certo. Vai ver, deu e a gente não percebeu. Afinal, o que é mesmo dar certo?
Uma das maiores promessas que carrego comigo é a de não deixar as minhas ansiedades dominarem os dias. É preciso manter a calma e lembrar que algumas coisas, às vezes, precisam dar errado pra tantas outras melhores darem certo. A verdade é que tem dia que penso que isso é balela, conversa pra boi dormir, mas acalma. É aquele tipo de coisa que eu finjo acreditar pra não perder as esperanças.
Adoro essa época do ano onde o peso na consciência de cada um amolece os corações. Uma troca desesperada de presentes, e carinhos, e demonstrações de afeto pra compensar todas as semanas de desatenção, de cara amarrada, de saco cheio.
Bendito seja o inventor do calendário e o da máquina infinita das horas. Talvez eles só quisessem organizar a vida, mas deram a ela uma esperança tão infindável quanto a certeza de que o dia não termina quando os ponteiros dão uma volta completa e rechegam nos 12, ou o ano esbarra no 31 de dezembro. A-vida-sempre-continua. Empurrando os anos e a nós com a barriga.
Às vezes deito na cama, nos momentos vazios dos dias que ainda sobraram para as conversas comigo mesmo, e me pergunto se tudo isso vale a pena. Se todas as ponderações, e amores, e afetos, e trocas significantes de carinho e atenção que fazemos todos os dias na busca infindável pela maldita metade da laranja, por uma amizade sincera ou por um simples afago não são só horas mal empregadas dos dias.
No fim, o que vale é sacudir a cabeça para os pensamentos ruins saírem feito poeira e encarar a realidade. Sabemos que essa vida não depende de ninguém além de nós, de um pouco de sorte para o universo conspirar a favor e uma mãozinha do destino.
Que, pelo menos, os nossos presentes sejam por lembrança, que os nossos abraços e votos de um feliz ano novo sejam sinceros e que, mais do que satisfazer convenções sociais, nós, de fato, sejamos presentes nas vidas das pessoas que amamos e façamos de todos os seus anos realmente felizes.
Eu tentei não dizer, mas preciso confessar: Odeio o fato de as pessoas esperarem a angustia do ano acabar para começarem a correr atrás do prejuízo e fazer, ainda, valer a pena. Tomara que ainda haja tempo." (Matheus Rocha)
Texto da pagina Neologismo.








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